1987 – Jamais me esquecerei.
Não lembro quando presenciei a minha primeira partida no Ernestão mas pelos lampejos de memória que tenho, estive no alçapão da zona sul já em 1985. Digo isso ao lembrar algumas ofensivas da torcida incluindo meu pai e tios, feitas contra Wagner camisa 9 centroavante naquela oportunidade.
No Brasileiro de 1986, queria muito ter presenciado todos os jogos, mas lamentava e às vezes até chorava vendo meu pai desaparecer rua a fora na direção do estádio me deixando na companhia do radinho, hora com Lourival Budal outrora com Ney Boto Guimarães. Mas hoje entendo a postura do meu pai, pois a massa tricolor estremecia literalmente as arquibancadas, lembro por sinal do barulho ensurdecedor dos pés sapateando sobre a madeira.
Que saudade daquele barulho!
Mas lembro muito bem de 1987, a minha paixão pelo Joinville Esporte Clube nascia neste ano. No ano anterior já tinha acompanhado o JEC em diversos jogos tanto no Ernestão como pela TV, que naquela época já era colorida graças a Copa do Mundo de 1986 no México. Com a euforia da Copa na memória, lembro-me: dos jogos, do nascimento do meu irmão, das figurinhas da Copa nos chicletes Ping Pong, da derrota do Brasil para França nos pênaltis pelas quartas de final e minha amargura, vendo as pessoas sofrerem por aqueles jogadores que estavam tão longe.
Despertou ali um amor pelo Joinville Esporte Clube, que estava tão perto.
Fui jogar na Escolinha do JEC, e sempre que podia andava no silêncio do Ernestão,fazendo planos para o JEC sonhando poder jogar ali. Era um mundo novo… Criado na zona sul da cidade, com poucas regalias de lazer, a não ser claro, o futebol do barreiro do Guanabara; posso citar aqui vários craques da bola: Caroço, Nilson, Leno, Andi, Douglas, Ricardinho e a turma lá de cima Taka, Dudu, Paulinho, Yuko entre outros.
Mas sabe o que nós todos tínhamos em comum? “UMA PAIXÃO INSUPERÁVEL” pelo JEC, que nossos pais e tios não cansavam de exaltar.
E não posso me esquecer do Lala, o narrador do povão do Guanabara. Doralicio, o Lala, também era fã de um cara que eu admirava muito; Ele está guardado para sempre em nossa memória, saudoso Lorival Budal, alegri, alegria, alegria, alegria, Tricolor. O locutor do povão como era conhecido, faleceu em 29 de julho daquele ano.
Quando Joinville chegou à decisão do Campeonato Catarinense de 1987, eu estava vibrante, tinha acompanhado a conquista da Taça Kurt Meinert. Hoje creio que não podia ter outro destino que não fosse ser erguida pelo Joinville, tamanha importância que este homem teve na história do Tricolor. Quando em 1971 mesmo após a vitória esmagadora de 4×1 sobre o Avaí que deu o Titulo antecipado ao América FC, Profetizou:“Ou América e Caxias se unem ou o futebol Joinvillense chegará ao caos”. Falaremos mais sobre Kurt Meinert em outra oportunidade.
Final da Taça Kurt Meinert – Ernestão
Com muita disposição, o JEC manteve o 0x0 no tempo normal e na prorrogação. Ao final do jogo Adilson ergueu a taça no Ernestão.
Seria essa a minha manchete. Foi a primeira vez que eu estava presenciando um fato de tamanha importância; ouve invasão de muitos torcedores, lembro que muitos jogadores ficaram sem suas camisas, calções e meiões. O povo vibrava como nunca tinha visto e o clima superava o da Copa Mundo que também tinha presenciado pela primeira vez no ano anterior.
Hexagonal final – Taça Cládio Wagner
Com o título da Taça Kurt Meinert o Joinville foi para o hexagonal final e foi demolidor, chegando à última rodada precisando apenas de um empate contra o Criciúma no Heribelto Hulse para ser campeão Catarinense de 1987.
23/08/1987 – Neste dia estava ansioso sentado na frente da TV para ver o jogo. Das pessoas que convivi naquela época Lala e meu saudoso Tio Mario que hoje mora no céu, estiveram em Criciúma. Torcedores de sorte, eles presenciaram um show de Nardela, Paulo Egídio, Geraldo Pereira, Rocha, Claudio José, Moreno, e a consistência de Leandro, Adilson, Almir, Junior, e Rodolfo que fez ótimas defesas no campeonato e pegou bolas difíceis no último jogo.
O Joinville dominou o jogo, mas só abriu o placar no segundo tempo. Os gols de Geraldo Pereira e Nardela passaram durante anos na minha cabeça, quando tive o prazer de rever em 2005. Foi como um presente, pois lembrei da minha infância, os amigos, o barreiro, a seleção RC, a segurança, a liberdade de ir e vir. Coisas que não dava valor, hoje sei que meus filhos perderam isso, ou melhor, já nasceram sem essa tal liberdade.
5 minutos do segundo tempo.
Eu estava tão nervoso que nem lembrava mais do primeiro tempo. Meu pai olhava fixo pra TV quando Almir tocou a bola para Rocha na esquerda em cima da linha central do campo, o lateral arrancou em velocidade, olhou pra área e cruzou, Nardela desviou de cabeça e a bola sobrou no pé de Geraldo Pereira que matou a pelota à meia altura deixando picar no chão para um arremate perfeito de perna direita sem chances para o goleiro Luis Henrique.
A foto da comemoração do gol de Geraldo Pereira foi estampada em duas edições da revista Placar Ed. 902-A dos Campeões e a Ed. 918 – As imagens do ano, ambas em página inteira.
Gol de Geraldo Pereira aos 5min do 2° tempo, Narração Ney Boto Guimarães
30 minutos do segundo tempo.
Numa cobrança de escanteio, a zaga do Criciúma parou e a pelota caiu no pé de Paulo Egídio, que partiu para cima de Sarandi; o lateral parou e Paulo Egídio cruzou a bola para Nardela que recebeu na entrada área, cortou pra esquerda avançou batendo no canto direito. Foi o gol do Fantástico.
Gol de Nardela aos 30min. do 2° tempo, narração Ney Boto Guimarães.
Explosão na zona sul da cidade, felicidade e orgulho estampado no rosto de cada torcedor que vi naquele dia. Quando o Juiz José Roberto Wright apitou o final do jogo, as ruas de Joinville já estavam tomados pela massa tricolor.
Parabéns à todo elenco Tricolor de 1987 pela conquista do 10° Título Estadual em 12 anos.
Sds Tricolor